terça-feira, 9 de outubro de 2007

Especial GP do Brasil: Segunda vitória épica de Senna

Se em 1991 a torcida deixara o Autódromo José Carlos Pace festejando o triunfo de Senna, em 92 o panorama foi bem diferente. Num ano em que a tecnologia falou mais alto que a capacidade dos pilotos, a equipe Williams foi praticamente imbatível. Prova disso foi a seqüência de cinco vitórias de Nigel Mansell nas primeiras etapas do Mundial, inclusive no GP do Brasil, em 05 de abril. Ayrton, na ocasião, largara em terceiro lugar, mas abandonou na volta 17 devido a problemas elétricos.

Pulamos para 1993. Para falarmos dessa temporada, no entanto, é preciso fazer um pequeno retrospecto do final do ano anterior. À época, a mídia especializada dava como certa a transferência de Senna para a Williams, grande carro da Fórmula 1 no momento, sem rivais. Para surpresa geral, a equipe inglesa confirmou uma outra dupla de pilotos: Damon Hill e (surpresa!) Alain Prost.

Extremamente irritado com a atitude do rival, que havia condicionado sua participação na Williams à não-contratação de Senna, o brasileiro tomou a atitude de abandonar a categoria. Pressionado pela McLaren para que revisse a decisão, o paulistano concordou em correr pelo time de Ron Dennis. O contrato dele, entretanto, seria fechado “race-by-race”, ou seja, confirmado corrida por corrida.

Interlagos recebeu a segunda prova daquela temporada. Na primeira, Alain Prost assombrara todos os outros competidores, ao vencer na África do Sul com mais de um minuto de vantagem para o segundo colocado, justamente Senna. Era de se esperar, pois, nova soberania das Williams no Brasil, já que as McLaren de Senna e Michael Andretti sentiam claramente a carência de potência, motivada pelos novos motores da Ford.

E foi exatamente isso que se viu durante os treinos classificatórios. Prost e Hill se destacaram dos demais, cravando a primeira fila confortavelmente. Tirando tudo o que podia e mais um pouco do seu bólido, Senna marcou o terceiro tempo, seguido pela revelação Michael Schumacher, pelo companheiro Andretti e por Riccardo Patrese. Rubens Barrichello e Christian Fittipaldi, os outros brasileiros inscritos, ficaram apenas em 14º e 20º, respectivamente.

Dada a largada, momentos de tensão: Andretti tentava defender a posição do assédio de Gerhard Berger quando a McLaren foi “catapultada” depois de encostar levemente numa das rodas da Ferrari. O norte-americano, apesar disso, saiu do acidente sem qualquer problema mais sério.

No pelotão da frente, Prost abria na liderança, enquanto Senna e Hill brigavam arduamente pelo segundo lugar. Depois de ter pulado na frente, o brasileiro foi ultrapassado pelo inglês na volta 11. Schumacher era o quarto.

As esperanças de Ayrton de vencer pela segunda vez em São Paulo diminuíram quando lhe foi aplicada uma punição, por ter passado Hill na primeira volta em bandeira amarela. Isso fez com que o brasileiro tivesse que parar nos boxes e ficar parado por 10 segundos.

Assim que retornou à pista, em quarto, Senna viu as primeiras gotas caírem na pista de Interlagos. A chuva chegara e, logo, aumentara de intensidade, fazendo com que todos precisassem colocar pneus biscoito. Nesse momento, Schumacher perdeu o controle da Benetton e se posicionou mal em seu pit, perdendo muito tempo e permitindo que o brazuca subisse para terceiro.

O golpe decisivo da corrida aconteceu na volta 29. Fittipaldi havia rodado e estava atravessado na pista no fim da reta dos boxes. Prejudicado pela situação meteorológica adversa, Prost, que continuava em primeiro, não segurou a Williams no asfalto molhado e também escorregou, acertando o Footwork. Apesar de estar em velocidade relativamente baixa, o carro do inglês ficou danificado de modo que não pôde retornar à disputa.

Mostrando a tradicional genialidade sob dilúvios, Senna aproximou-se rapidamente de Hill e, quando a pista já começava a secar, o bicampeão ultrapassou magistralmente aquele que seria seu último companheiro de equipe na volta 41, metros antes da curva do Laranjinha.

As últimas 20 voltas foram, assim como ocorrera em 91, um martírio para Senna. Dessa vez, o problema era o óleo do motor, cuja temperatura aumentava perigosamente. Com muita garra e fé, o brasileiro manteve o ritmo e cruzou a linha de chegada no primeiro lugar, para delírio dos milhares de torcedores que compareceram ao autódromo.

A comemoração da torcida foi tão efusiva que muitos dos presentes invadiram a pista para celebrarem ao lado do ídolo, do herói, do mito. Seria a última vez em que Ayrton Senna da Silva teria a oportunidade de vencer em seu país, antes do fatídico 1º de maio de 1994.

Resultado final do GP do Brasil de 1993:

1) Ayrton Senna (BRA/McLaren-Ford), 71 voltas em 1h51min15s485
2) Damon Hill (ING/Williams-Renault), a 16s625
3) Michael Schumacher (ALE/Benetton-Ford), a 45s436
4) Johnny Herbert (ING/Lotus-Cosworth), a 46s557
5) Mark Blundell (ING/Ligier-Mugen), a 52s127
6) Alessandro Zanardi (ITA/Lotus-Cosworth), a uma volta
7) Phillipe Alliot (FRA/Larrousse), a uma volta
8) Jean Alesi (FRA/Ferrari), a uma volta
9) Derek Warwick (ING/Footwork), a duas voltas
10) Erik Comas (FRA/Larrousse), a duas voltas
11) Michele Alboreto (ITA/Lola), a três voltas
12) Luca Badoer (ITA/Lola), a três voltas

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