domingo, 28 de setembro de 2008

Sonhos e pesadelos de uma noite

Um GP centenário, o de número 800 da história da Fórmula 1, não poderia ser simplesmente uma corrida qualquer. Tinha que haver emoções, ultrapassagens num local onde ninguém botava fé que elas aconteceriam, batidas, intervenções do Safety-Car, lambanças de equipes grandes e um resultado inesperado. Uma vitória de um cara que acelera demais e que guiou com perfeição neste domingo, mas ainda assim um desfecho inimaginável para a inédita prova noturna de Cingapura.

Fernando Alonso fez as pazes com a vitória de maneira triunfal, aliando a competência de bicampeão a uma enorme dose de sorte. A primeira fortuna veio com a realização de seu primeiro pit-stop logo antes da entrada do carro madrinha na pista, motivada pelo acidente de Nelson Piquet — um jogo de equipe não intencional? Acabou sendo!

Na seqüência, a trapalhada da Ferrari no reabastecimento de Felipe Massa, que saiu dos boxes com mangueira e tudo por erro do time ao sinalizar que ele poderia sair, completou o cenário que o asturiano precisava para lutar pelo degrau mais alto do pódio. O resto era com ele, que não fracassou.

Mesmo que quisesse, talvez Alonso fosse incapaz de encerrar a noite associado à palavra fracasso. Essas três sílabas foram seguradas com as duas mãos pela escuderia de maior tradição na categoria, que saiu zerada de Cingapura, quando tinha boas possibilidades de fazer a dobradinha, caso não houvesse a entrada do Safety-Car.

Depois de enterrar as chances de Massa, que acabou em 13º, nada mais pôde ser feito pela Ferrari. O brasileiro ficou fora de combate nas últimas posições, uma grande infelicidade em função do forte início de corrida que vinha fazendo. Da considerável oportunidade de sair da cidade-estado asiática como líder do Mundial, terminou sete pontos atrás de Lewis Hamilton, o terceiro colocado na prova.

Desfecho ruim, porém menos desastroso do que aparentava ser, afinal restam mais três etapas para o encerramento da temporada. O único problema é que Felipe não depende mais apenas de si para ficar com o título; vai precisar da ajuda de Kimi Raikkonen para roubar pontos do inglês da McLaren. Ruim do jeito que está o finlandês e com uma equipe campeã de erros? Isso preocupa.

Para Hamilton, o terceiro lugar teve sabor de vitória, pois em condições normais chegaria atrás das Ferrari e veria Massa assumir a ponta do torneio. Num circuito travado e de difícil ultrapassagem, o britânico mostrou que aprendeu a correr com a cabeça nos pontos em vez de tentar repetir a apresentação alucinante de Monza e correr o risco de ficar pelo caminho. Sábio rapaz.

Ingleses felizes, espanhóis mais ainda, brasileiros tristes e finlandeses decepcionados. Tanto Raikkonen como Heikki Kovalainen deram vexame no circuito urbano. O campeão até que vinha bem, considerando o prejuízo que teve por entrar nos boxes ao mesmo tempo em que Massa e por tal razão ter caído para as últimas posições. Recuperou-se, chegou ao quinto posto e estatelou a parede a quatro voltas do fim. O que dizer sobre isso? A sorte que teve para faturar o título no ano passado está lhe custando muito caro pelo visto.

Já Kovalainen mal apareceu nesta corrida. Fez uma largada ruim e sumiu depois do primeiro Safety-Car, terminando em décimo. Por mais que as atenções da McLaren sejam voltadas para Hamilton, não seria ruim ter um segundo piloto um pouco mais prestativo para auxiliar pelo menos na briga dos Construtores, liderada agora pelo time de Woking com apenas um ponto de vantagem sobre a Ferrari. Se Heikki colaborasse, a diferença poderia ser bem maior.

No pódio, ao lado de Alonso e Hamilton, Cingapura presenciou a grata presença de um piloto da Williams. Uma bela corrida de Nico Rosberg, diga-se, que andou muito forte para descontar o prejuízo do “Stop & Go” tomado pela ida aos boxes quando o pit-lane estava fechado.

A nação alemã, aliás, foi outra que teve motivos para comemorar o domingo. Além do segundo lugar de Rosberg, teve Timo Glock num merecido quarto posto — um dos pilotos que mais têm se destacado nesta segunda metade da temporada —, seguido do jovem talentoso Sebastian Vettel e Nick Heidfeld. Haja alemão!

David Coulthard, a quem muitos achavam que nem correria nesta prova para já ceder lugar a Vettel, levou dois pontinhos com a sétima colocação. Seu grande destaque foi por ter segurado Hamilton por longas voltas e impedido uma reação ainda maior do britânico. Dá-lhe escocês.

Para a alegria da Williams, Kazuki Nakajima levou um tento ao completar o páreo em oitavo. Resultado ao qual fez jus, com ultrapassagens e poucos erros. Seu primeiro ponto desde o GP da Inglaterra, disputado em julho.

Rubens Barrichello, assim como Piquet, abandonou. Não por erros, mas pela falha do carro da Honda. Na corrida, o que mais chamou atenção foi seu fracasso ao jogar a balaclava para os torcedores das arquibancadas. Nem isso o coitado tem conseguido.

Sobre o brazuca da Renault, vale apenas o registro de que sua situação na equipe está muito delicada. Resta torcer para que Flavio Briatore, chefão do time francês, lhe dê uma chance de tentar melhor sorte na etapa do Japão, antes de bater o martelo sobre os pilotos para 2009.

Faltou falarmos sobre Robert Kubica, outro que teve de reabastecer durante o período de boxes fechados para evitar uma pane seca e acabou penalizado com um “Stop & Go”. Independente disso, o polonês da BMW foi bastante discreto. Um décimo lugar com gosto de decepção.

Muito boa a corrida de Cingapura, mais emocionante do que poderíamos imaginar. Para a McLaren, mais lucrativa do que a encomenda. Para a Ferrari, um enorme pesadelo. Para Fernando Alonso, um sonho para curtir por muitas noites.

Um comentário:

Anônimo disse...

Assino embaixo.