terça-feira, 1 de maio de 2007

01/05/1994

Reproduzirei aqui um texto que escrevi no ano passado, por ocasião de um processo seletivo. O conteúdo dele é absolutamente verdadeiro, por mais inacreditável que pareça. É, sobretudo, o modo com o qual encaro todos os dias 1ºs de maio desde então.


- Vai ter algum acidente sério nessa corrida.

- Ah é? E vai ser com o Senna?

- Pode ser sim.

Eu, na arrogância dos meus sete anos de idade e deitado confortavelmente no meu quarto, quase ri da cara da minha irmã quando ela disse tal “absurdo” durante a volta de apresentação. Certo, no dia anterior eu havia visto a primeira morte ao vivo em corridas, mas pensar que nosso piloto teria algum problema de tal proporção era praticamente uma blasfêmia. Ele era inatingível.

“O alemão tem 20 pontos contra nenhum do brasileiro”, dizia Galvão. Que droga, pensava eu, não falavam que essa equipe era a melhor? Porque ele não consegue ganhar uma? Será que ele não é tão bom, como sempre ouvi? Aquelas comemorações nas quais todos da minha família gritavam alucinados seriam momentos esporádicos?

Vamos ver, hoje ele larga de novo em primeiro, quero assistir a exibição dele na sala. Luzes vermelhas, verdes, partiram. Olha só, o piloto português bateu em alguém, parece ter sido sério! Entra o safety car, enquanto eu corro para caçoar da minha irmã. “Ta vendo só, não foi com o Senna!”. A expressão preocupada dela me deixou constrangido, porém. O que ela estava pensando?

Relargada, já fecharam a volta cinco. Ele continua em primeiro, Schumacher em segundo, em terceiro... e mais alguém bateu. Williams-Renault número 2, pneus Goodyear. As câmeras de tv, inclusive do céu (não imaginava elas estivessem num helicóptero), focalizam um capacete amarelo com listras azuis e verdes, preocupantemente imóvel, equipes de resgate tentando tirar o piloto do carro, apertando o peito dele.

- Será que ele vai morrer pai?

- Não sei, filhão.

Ao mesmo tempo em que escutava isso, olhava para a minha irmã, cujos olhos já estavam cheios d’água. Desde então, nunca mais duvidei das coisas que ela fala, nunca mais menosprezei a opinião das pessoas, nunca mais esqueci aquele feriado. E nunca mais pude ver o Brasil se emocionar, assim como minha família o fazia, durante uma corrida de Fórmula 1.

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