domingo, 30 de setembro de 2007

Com a mão na taça

Se restava algum pingo de dúvida sobre a genialidade deste piloto chamado Lewis Hamilton, o encharcado GP do Japão acabou por esclarecer a todos que o estreante é de fato um sujeito iluminado, um garoto extremamente veloz, arrojado, consistente, de forte personalidade, carismático e que está muito próximo de conquistar o seu primeiro título mundial na Fórmula 1.

Difícil encontrar uma palavra para definir com clareza a atuação do inglês na corrida deste domingo. A melhor forma talvez seja dizer que guiou como um verdadeiro campeão que está prestes de se tornar. Largou na pole e em nenhum momento foi ameaçado na liderança. Escapou uma única vez da pista, mas porque foi tocado por Robert Kubica.

Agora com confortáveis 12 pontos de vantagem sobre Fernando Alonso na classificação, Hamilton pode se dar ao luxo de fazer um quarto e quinto lugares nas duas provas restantes que, ainda assim, ficará com o merecido caneco.

Mas deixemos a análise sobre o virtual campeão de 2007 um pouco de lado para ressaltar os demais acontecimentos da maravilhosa etapa de Fuji, que teve praticamente de tudo em suas 67 voltas. Até episódios inéditos para a categoria, como as 18 passagens iniciais realizadas em fila indiana dos corredores atrás do Safety-Car.

Foram longas duas horas e 34 segundos de disputa marcadas por rodadas, belas ultrapassagens, batida, erros bobos, fogo no pit-stop, choro nos boxes, inúmeras situações que dificilmente seriam possíveis em condições de piso seco.

A começar por uma Toro Rosso na liderança, que se deveu muito mais à fantástica pilotagem do novato Sebastian Vettel. O alemão foi, a meu ver, o grande nome da prova, apesar de não ter completado o GP. Não fosse a infantil batida na traseira de Mark Webber durante a segunda intervenção do carro madrinha na pista, poderia ter chegado ao heróico pódio. Foi tão incrível a atuação que o próprio Sebastião deixou extravasar os sentimentos, sendo flagrado aos prantos nos boxes.

Webber não chorou, mas se irritou muito com o vacilo de Vettel, pois estava num ótimo segundo lugar quando foi atingido pelo tedesco. A braveza foi tamanha que o australiano atirou bem longe o volante antes de sair do carro, o que no fim das contas pode resultar numa multa.

Outro que saiu cabisbaixo da disputa foi Alonso, que pela primeira vez no ano ficou sem pontuar. O espanhol teve vários “quase” na corrida e abandonou depois de uma aquaplanagem, seguida de batida. Se iniciou o GP com uma boa visão da liderança do campeonato, terminou dando praticamente adeus ao tri.

Pelos lados de Maranello, o sentimento pós-etapa foi certamente de decepção. Nem tanto pelo resultado dos pilotos, mas pela estupidez na estratégia ao largar com pneus de chuva média, quando o regulamento diz claramente da obrigatoriedade do uso de compostos de chuva forte nas condições de dilúvio.

Em relação aos competidores ferraristas, destaque para ambos. Kimi Raikkonen pela boa recuperação e audácia na ultrapassagem sobre David Coulthard. Já Felipe Massa por conta do belíssimo duelo com Robert Kubica nos metros finais da prova, que lhe valeu a sexta posição.

Terceiro colocado, Kimi permaneceu matematicamente na luta pelo título, mas deve cair já na China, afinal, está 17 pontos atrás de Hamilton. O Brazuca, por sua vez, foi o primeiro do G4 a se despedir da briga pelo caneco, mas pode ter como consolo a liberdade para disputar a vitória no GP do Brasil. Foi o que restou.

Voltemos agora ao pódio para falar da estréia de Heikki Kovalainen na festa do champanhe. O finlandês obteve um louvável segundo lugar, após segurar o ímpeto do compatriota Raikkonen. Amadureceu muito na temporada e merece ser mantido no time francês em 2008. Só falta saber ao lado de quem — Nelson Ângelo Piquet ou Fernando Alonso.

Já Rubens Barrichello, coitado, nem mesmo na chuva conseguiu se sobressair. Chegou em décimo, atrás de uma Spyker e uma Toro Rosso, permanecendo zerado no certame. Está apagado, não fazendo jus a mais um ano na categoria.

Só faltam China e Brasil. Será que ainda teremos a decisão em Interlagos? Creio que sim. Será aqui a confirmação do título do primeiro negro a correr na F-1, Lewis Hamilton.

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