domingo, 14 de setembro de 2008

Talento maior do que qualquer palavra

Ele disse que não sabia o que dizer; mas que mal há nisso? Em vez de palavras, Sebastian Vettel mostrou atitude e um grande talento para vencer sua primeira corrida na Fórmula 1 com a facilidade e arrojo de um piloto experiente a bordo de um carro de ponta. A diferença é que se tratou de um garoto de 21 anos, com apenas 22 GPs no currículo e um monoposto mediano.

Uma vitória em Monza que ninguém pode chamar de circunstancial, pois não foi o caso de uma zebra ocasionada após o abandono dos competidores mais fortes. Vettel foi soberano no piso molhado, no úmido e também no quase seco. Ganhou com a presença de Ferrari, McLaren e BMW na pista. Brilhou porque derrotou a todos mesmo sem dispor do melhor equipamento. Um dia histórico, sem dúvida.

Tão impressionante quanto a atuação foi a naturalidade com que o garoto vivenciou a sensação do triunfo inédito na categoria. No lugar do choro compulsivo, o sorriso exacerbado de quem está acostumado com a celebração de grandes conquistas. Mais um motivo para admirarmos o tedesco.

Um grande dia para a Toro Rosso, a nova equipe vencedora do circo e a primeira escuderia italiana não Ferrari a subir no degrau mais alto do pódio desde a Benetton, ganhadora do GP da Alemanha de 1997 com Gerhard Berger, que não participava da cerimônia do champanhe desde aquela ocasião. Outro que mereceu a conquista deste domingo.

Apesar de todos os méritos e implicâncias da vitória de Vettel e do time filial da Red Bull, o agitado GP da Itália exaltou a genialidade de outro garoto: Lewis Hamilton. O inglês salvou uma corrida que parecia perdida para ele em termos de campeonato ao chegar em sétimo. Protagonizou belíssimas ultrapassagens sem se preocupar com quem estivesse a sua frente. Exagerou em certos momentos, mas ainda assim foi incrível.

Não fosse a necessidade de trocar os pneus de chuva pelos intermediários, o britânico da McLaren teria saído da Itália com uma vantagem ainda maior sobre Felipe Massa na liderança do Mundial, que agora é de apenas um ponto. A diferença hoje parece ser o de menos para Lewis, afinal conseguiu provar a todos o que havia dito ao longo da semana: ele tem mais peito que qualquer um para acelerar no molhado e nem mesmo a punição sofrida em Spa foi capaz de mudar isso.

Para Felipe Massa, a sexta posição acabou sendo pouco. Tudo bem que a Ferrari estava ruim nas condições de asfalto molhado, mas faltou um pouco mais de arrojo do piloto que se classificou como um bundão na última corrida. Apesar da bela manobra sobre Nico Rosberg, o brasileiro repetiu o desempenho da Bélgica. A diferença é que desta vez ninguém bateu ou foi punido.

Lá na frente, mesmo com o excelente carro para as condições de chuva, Heikki Kovalainen foi medíocre durante todo o Grande Prêmio. Um segundo lugar com sabor de fracasso, ao menos para quem estava assistindo à prova. Nada fez desde a largada à bandeirada, apenas se manteve na pista para chegar atrás do vencedor. Muito ruim para quem dirige uma McLaren.

Na terceira posição, algo mais interessante. Robert Kubica, de capacete especial para recordar o seu primeiro pódio na F-1, lembrou-se mais ainda do feito de 2006 ao repetir o terceiro lugar, depois de ter partido de 11º. Com todos os méritos, o polonês da BMW assumiu de vez a terceira colocação na classificação do campeonato e se manteve com chances matemáticas de ser uma enorme zebra na briga pelo título entre Hamilton e Massa. Uma conjectura difícil de concretizar, mas que o feioso competente segue fazendo bonito, ah segue!

Fernando Alonso, depois de perguntar diversas vezes pelo rádio se alguém havia arriscado usar os pneus intermediários, mostrou a desenvoltura de bicampeão para encarar o circuito com tais calçados. E se deu bem, obtendo pela quarta vez no ano a quarta posição, seu melhor resultado até aqui. No Mundial, é o sétimo e o melhor classificado dentre os que não fazem parte do G3.

Outro que fez uma boa exibição em Monza foi Nick Heidfeld, o quinto colocado e agora somente quatro pontos atrás de Kimi Raikkonen na tabela de pontuação. Raikkonen? Novamente apagado e longe de ser aquele piloto que se apresentou na Bélgica. Terminou em nono, depois de andar mais da metade da corrida acima da décima colocação. Como de costume em 2008, acordou quando já não dava para fazer mais nada em termos de um bom resultado. Ah, mas conseguiu outra volta mais rápida para seu currículo. Uma grande porcaria.

Com 20 pontos a menos que Massa, 21 atrás de Hamilton e sete de Kubica, o finlandês está definitivamente morto na briga pelo título. O negócio agora é ralar para ficar ao menos em terceiro e evitar um vexame maior.

Esquecemos de Mark Webber, o oitavo com a Red Bull. O que dizer do australiano? Foi o leão de treinos de sempre e mediano na corrida. Nada a ser acrescentado. Ou melhor, vale um adendo: é bom ele começar a ter algum brilho dentro da equipe porque Vettel está a caminho.

Dos demais brasileiros, Nelson Piquet foi o menos ruim. Retardou ao máximo sua única parada para reabastecimento e conseguiu o décimo posto. Pelo menos não abandonou, o que complicaria a sua vida na Renault. Já Rubens Barrichello conseguiu ser pior que a posição de largada. De 16º no grid para 17º ao final da prova com o horroroso bólido da Honda.

Na lista de lamentações de Monza, destaque para três pilotos: Nico Rosberg por conta da queda de rendimento da Williams, que resultou num péssimo 14º lugar, Sébastien Bourdais pelo problema enfrentado logo na volta de apresentação — não fosse isso poderia ter brigado por um lugar no pódio e aumentar a festa da Toro Rosso — e Giancarlo Fisichella, o único que abandonou, mas valente por segurar a Ferrari de Raikkonen e a McLaren de Hamilton no começo da prova.

O barbeiro do dia, sem titubear, foi David Coulthard. Mas o escocês está em vias de pendurar o capacete. Por isso, tenhamos um pouco mais de paciência.

A Fórmula 1 se despede da Europa com duas excelentes corridas. Que venha a etapa noturna de Cingapura e mais incógnitas sobre quem levará a melhor na pista inédita e também no campeonato. Entre os construtores, arrisco um palpite: a McLaren, somente cinco pontos atrás da Ferrari, conseguirá o título.

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