quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Dois anos frustrantes para o sonho de vitória brasileira

Os anos de 2002 e 2003 foram bastante angustiantes para a torcida brasileira em relação ao GP do Brasil. Nessas temporadas, os amantes do esporte a motor chegaram a sentir um leve gostinho de uma conquista nacional no circuito de Interlagos. Mas como nos anos anteriores, tudo não passou de um breve momento de euforia.

A esperança de vitória para o público da casa vinha da Ferrari de número 2, comandada por Rubens Barrichello. Naquele fim de março de 2002, o piloto chegou ao seu país com a má notícia de que teria de correr com a “Nona” (vovó), carro da temporada passada. Apenas Michael Schumacher guiaria a nova F2002.

Com a máquina antiga, o brazuca foi apenas o oitavo colocado no grid, enquanto seu companheiro de equipe marcou a segunda posição, atrás somente do pole position, Juan Pablo Montoya. Os palpites para a corrida apontavam para o êxito do colombiano.

A primeira volta do GP, contudo, mudou os prognósticos do resultado final. Schumacher largou melhor e tomou a dianteira. Montoya, numa tentativa desesperada de recuperar a posição na reta oposta, acabou tocando na traseira da Ferrari do alemão e perdeu o bico da Williams. Era o adeus antecipado do “Gordito” na briga pelo alto do pódio.

O protagonista da corrida, então, passou a ser Barrichello. Numa tática ousada de três paradas, o competidor aproveitou-se do carro mais leve para abrir caminho sobre os adversários: passou Kimi Raikkonen após a largada, David Coulthard na segunda volta e as Renault de Jarno Trulli e Jenson Button nas passagens seguintes.

Terceiro colocado, Rubinho logo partiu para o ataque sobre Ralf Schumacher e o passou no fim da reta principal, após retardar a freada para o contorno do “S” do Senna. Os torcedores estavam eufóricos e muitos já gritavam “é hoje, é hoje!”.

No 14º giro, Barrichello ultrapassou Michael Schumacher, que não fez resistência à manobra do parceiro. Rapidamente, o brasileiro começou abrir vantagem e permaneceu como a principal atração da prova até a passagem de número 17. Nesta volta, a “Nona” apresentou problema hidráulico e acabou com o sonho da nação verde-amarela. Rubens tentou chegar aos boxes, mas teve de encostar o carro na grama, na descida da Junção.

Schumacher, então, voltou à liderança e nela permaneceu até a bandeirada final. A única ameaça à quarta vitória do germânico no Brasil veio de seu irmão Ralf. O Schummy mais moço, porém, decepcionou o público por sequer ter esboçado uma tentativa de ultrapassagem, mesmo estando com um carro visivelmente melhor que o de Michael.

A terceira posição ficou com David Coulthard, num ano extremamente ruim para a McLaren. Montoya, em prova de recuperação, conseguiu o quinto lugar como recompensa pelo início estabanado de GP.

O momento cômico da etapa — que deveria ser ilustre — aconteceu na hora da bandeirada final. Pelé teve a honra de agitar a quadriculada, mas acabou se distraindo e perdeu a passagem do vencedor. Críticas ao Rei do Futebol? Não é para tanto. Apenas algumas risadas pelo “incidente”.

Em 2002, o Brasil contou com três representantes na pista. Além de Barrichello, Felipe Massa, da Sauber, e Enrique Bernoldi, da Arrows, eram os nossos defensores nos traçados. Os dois últimos, infelizmente, também ficaram pelo caminho na corrida brasileira.

No mundial de 2003, o autódromo José Carlos Pace recebeu a terceira etapa da F-1, repetindo a ordem do calendário do ano anterior. Uma década após a última vitória de Ayrton Senna em Interlagos, a expectativa e o apoio da torcida eram grandes para ver uma nova conquista nacional.

O clima chuvoso e a inspiração de Rubens Barrichello naquele início de abril deixaram os fãs ansiosos pela corrida. E não poderia ser diferente, afinal, o piloto da Ferrari havia conquistado a pole position, tinha um carro redondo para enfim conquistar o topo do pódio. Some-se a isso a posição de Schumacher no grid: era apenas o sétimo.

Mas a 700ª corrida da história da competição teria muitos percalços pela frente. A começar pelo atraso de 15 minutos na largada, em função da chuva torrencial que criou uma “cachoeira” na Curva do Sol, localizada após o “S” do Senna.

Quando as condições da pista melhoraram, a organização optou por um início de prova em movimento. Uma largada com a presença do Safety-car. O prejudicado com essa medida foi Barrichello, que perdeu várias posições após a saída do carro madrinha.

O destaque na ocasião era Kimi Raikkonen, então líder do campeonato a bordo de uma McLaren bastante forte para o GP brasileiro. As atenções ao finlandês passaram a ser segundo plano quando um carro passou reto na Curva do Sol. Era Michael Schumacher, em seu primeiro abandono no Brasil desde 1992.

O local do incidente deixaria outros cinco corredores a pé, dentre os quais o brasileiro Antonio Pizzonia, da Jaguar. Enquanto isso, Barrichello fazia uma recuperação alucinante, com direito a ultrapassagens na pista e à recuperação da liderança. Dia de festa? Lamentavelmente não.

Um erro grosseiro para o mundo tecnológico da F-1 tirou a provável vitória de Rubens. A Ferrari parou na pista com pane seca, ficou sem combustível. Ao descer do monoposto, o piloto não escondeu a expressão de tristeza e extrema insatisfação com o acontecido.

Lamentações à parte, a corrida seguia quente com Raikkonen na liderança e a fraca Jordan, comandada por Giancarlo Fisichella, atacando a McLaren do escandinavo. A descida da Junção foi o ponto chave para o resultado final: Kimi deu uma leve escapada, “Físico” assumiu a ponta com o carro amarelo e começou a se distanciar.

A volta era a de número 54. Dois giros mais tarde, o fim antecipado da corrida, graças a dois acidentes espetaculares. O primeiro com o australiano Mark Webber, que bateu forte na entrada da reta dos boxes. Poucos segundos depois, Fernando Alonso passou sobre os destroços da Jaguar, perdeu o controle da Renault e foi em direção ao muro.

Apesar do choque violento, o espanhol conseguiu descer do carro, mas ficou sentado por alguns minutos para tentar se recuperar do susto. A equipe médica o levou para um hospital de São Paulo, onde o competidor permaneceu por mais de 14 horas em estado de observação.

Com o agito da bandeira vermelha, a direção de prova decretou o final do GP do Brasil. Nos boxes, a Jordan apagava o fogo no motor do bólido de Fisichella, que comemorava a primeira vitória de sua carreira. No pódio, contudo, quem apareceu em primeiro lugar foi Raikkonen, declarado vencedor pelos dirigentes da categoria.

A alegria do finlandês durou pouco, já que a FIA (Federação Internacional de Automobilismo) admitiu ter cometido um erro na cronometragem. O piloto da Jordan já havia iniciado a volta 56 quando a prova foi interrompida, em função do acidente de Alonso. E como o regulamento determina que, nesses casos, a classificação final seja considerada pela penúltima volta completada, ficam valendo as posições da volta 54 e não da 53, como tinha sido determinado.

Assim, Fisichella de fato venceu sua primeira prova na Fórmula 1, com Raikkonen em segundo e Alonso em terceiro. Em resumo, o GP do Brasil de 2003 foi uma corrida sem largada, em que o líder abandonou por problemas no carro, não teve a bandeira quadriculada, o vencedor não chegou em primeiro e o terceiro colocado não subiu no pódio.

Confira os resultados dos GPs do Brasil de 2002 e 2003:

Grid 2002
1) Juan Pablo Montoya (COL/Williams-BMW), 1min13s114
2) Michael Schumacher (ALE/Ferrari), 1min13s241
3) Ralf Schumacher (ALE/Williams-BMW), 1min13s328
4) David Coulthard (ESC/McLaren-Mercedes), 1min13s565
5) Kimi Raikkonen (FIN/McLaren-Mercedes), 1min13s595
6) Jarno Trulli (ITA-Renault), 1min13s611
7) Jenson Button (ING-Renault), 1min13s665
8) Rubens Barrichello (BRA-Ferrari), 1min13s935
9) Nick Heidfeld (ALE/Sauber-Petronas), 1min14s233
10) Mika Salo (FIN-Toyota), 1min14s443
11) Pedro de La Rosa (ESP/Jaguar-Cosworth), 1min14s464
12) Felipe Massa (BRA/Sauber-Petronas), 1min14s533
13) Eddie Irvine (IRL/Jaguar-Cosworth), 1min14s537
14) GiancarloFisichella (ITA/Jordan-Honda), 1min14s748
15) Jacques Villeneuve (CAN/BAR-Honda), 1min14s760
16) Allan McNish (ESC-Toyota), 1min14s990
17) Olivier Panis (FRA/BAR-Honda), 1min14s996
18) Heinz-Harald Frentzen (ALE/Arrows-Cosworth), 1min15s112
19) Takuma Sato (JAP/Jordan-Honda), 1min15s296
20) Mark Webber (AUS/Minardi-Asiatech), 1min15s340
21) Enrique Bernoldi (BRA/Arrows-Cosworth), 1min15s355
22) Alex Yoong (MAL/Minardi-Asiatech), 1min16s728

Corrida 2002
1) Michael Schumacher (ALE/Ferrari), 71 voltas em 1h31min43s663
2) Ralf Schumacher (ALE/Williams-BMW), a 0s588
3) David Coulthard (ESC/McLaren-Mercedes), a 59s109
4) Jenson Button (ING/Renault), a 1'06.883
5) Juan Pablo Montoya (COL/Williams-BMW), a 1min07s563
6) Mika Salo (FIN/Toyota), a 1 Volta
7) Eddie Irvine (IRL/Jaguar-Cosworth), a 1 Volta
8) Pedro de La Rosa (ESP/Jaguar-Cosworth), a 1 Volta
9) Takuma Sato (JAP/Jordan-Honda), a 2 Voltas
10) Jacques Villeneuve (CAN/BAR-Honda), a 3 Voltas
11) Mark Webber (AUS/Minardi-Asiatech), a 3 Voltas
12) Kimi Raikkonen (FIN/McLaren-Mercedes), a 4 Voltas
13) Alex Yoong (MAL/Minardi-Asiatech), a 4 Voltas

Melhor Volta: Juan Pablo Montoya (1min16s079)

Grid 2003
1) Rubens Barrichello (BRA/Ferrari), 1min13s807
2) David Coulthard (ESC/McLaren-Mercedes), 1min13s818
3) Mark Webber (AUS/Jaguar-Cosworth), 1min13s851
4) Kimi Raikkonen (FIN/McLaren-Mercedes), 1min13s866
5) Jarno Trulli (ITA/Renault), 1min13s953
6) Ralf Schumacher (ALE/Williams-BMW), 1min14s124
7) Michael Schumacher (ALE/Ferrari), 1min14s130
8) Giancarlo Fisichella (ITA/Jordan-Ford), 1min14s191
9) Juan Pablo Montoya (COL/Williams-BMW), 1min14s223
10) Fernando Alonso (ESP/Renault), 1min14s384
11) Jenson Button (ING/BAR-Honda), 1min14s504
12) Nick Heidfeld (ALE/Sauber-Petronas), 1min14s631
13) Jacques Villeneuve (CAN/BAR-Honda), 1min14s668
14) Heinz-Harald Frentzen (ALE/Sauber-Petronas), 1min14s839
15) Olivier Panis (FRA/Toyota), 1min14s839
16) Ralph Firman (ING/Jordan-Ford), 1min15s240
17) Antonio Pizzonia (BRA/Jaguar-Cosworth), 1min15s317
18) Cristiano da Matta (BRA/Toyota), 1min15s641
19) Jos Verstappen (HOL/Minardi-Cosworth), 1min16s542
20) Justin Wilson (ING/Minardi-Cosworth), 1min16s586

Corrida 2003
1) Giancarlo Fisichella (ITA/Jordan-Ford) 54 voltas
2) Kimi Raikkonen (FIN/McLaren-Mercedes), a 0s945
3) Fernando Alonso (ESP/Renault), a 6s348
4) David Coulthard (ESC/McLaren-Mercedes), a 8s096
5) Heinz-Harald Frentzen (ALE/Sauber-Petronas), a 8s642
6) Jacques Villeneuve (CAN/BAR-Honda), a 16s054
7) Ralf Schumacher (ALE/Williams-BMW), a 38s526
8) Jarno Trulli (ITA/Renault), 45s927
9) Mark Webber (AUS/Jaguar-Cosworth), a 1 volta
10) Cristiano da Matta (BRA/Toyota), a 1 volta


Melhor volta: Rubens Barrichello (1min22s032)

Nenhum comentário: